Uma das áreas que mais me identifico na Educação Física é a “Detecção de Talentos Esportivos”.
Sabemos que, para que se consiga desenvolver um “Talento” é necessário que, durante a iniciação esportiva, as diferentes capacidades deste indivíduo sejam submetidas a um amplo e muito bem fundamentado trabalho de desenvolvimento. Estas capacidades devem ser muito bem exploradas e desenvolvidas.
Dentro desta linha, o ideal é proporcionar, aos iniciantes, o maior número possível de vivências motoras, físicas, cognitivas, psicológicas e sociais, pois com isto, é possível ampliar o seu repertório de recursos, utilizando-os, no momento oportuno, quando exigido em sua modalidade, no caso aqui, a partida de futsal.
Ou seja, no momento em que, durante a partida, ocorra uma situação que exija um comportamento diferenciado do atleta/ aluno, este irá buscar a “resolução” para a este “problema” dentro de sua “bagagem” de recursos, lembrando-se do que necessitou fazer em situações anteriores para obter êxito em situações passadas parecidas. Resumidamente, este jogador irá se “lembrar” do que fez, durante os treinos, que simulavam situações da partida. Para este desenvolvimento do aluno, a melhor estratégia, por parte do professor, é o Treinamento Integrado.
Talvez alguém se pergunte: Mas o que é “Treinamento Integrado”? Como treinarei minhas equipes de forma integrada?
Treinamento integrado é uma proposta de treinamento onde se trabalham os fundamentos e capacidades de forma conjunta, ou seja, o professor/ treinador deve evitar os trabalhos fragmentados, mas sim buscar conciliar nos treinos as situações que o jogador vivenciará na partida. Por exemplo, no lugar de treinar somente o passe e posteriormente os deslocamentos ou movimentações, o professor pode propor um jogo, onde os atletas necessitem utilizar-se de passes e movimentações, trazendo. Isso fará com que o aluno vivencie uma realidade mais próxima a que ele vivenciará na partida. Para isso é importante que o treinador utilize de sua criatividade de criação e explore ao máximo os jogos técnico-táticos, pedagógicos e de recreação para sua equipe.
Estudos na área do Treinamento Desportivo, vêm mostrando que os treinamentos fragmentados estão ultrapassados e devem ser evitados, sobretudo nas categorias de base.
Há alguns anos atrás era comum, ao vermos crianças treinarem o fundamento do passe, por exemplo, que os treinadores/ professores organizassem os alunos em filas, um de frente para o outro repetindo os movimentos. Assim, treinavam o fundamento, mas esqueciam-se de que, no jogo, haverá um jogador adversário que estará próximo deste aluno deslocando-o, desequilibrando-o. Esquece-se de que este aluno, durante a partida, necessitará passar a bola “calculando” a força, a velocidade de execução e o exato tempo e espaço, para que seu companheiro receba esta bola com condições de jogo. Ou seja, o treinador desperdiçou preciosos minutos de seu treino, pois seus alunos utilizarão pouco, do que foi treinado durante a semana, na partida. Sem contar que pode ter exposto seus alunos a riscos de lesões devido aos movimentos repetitivos... Seria mais proveitoso se ele tivesse se utilizado de um jogo (como, por exemplo, o “Jogo dos 4 gols”, já publicado aqui) para treinar este fundamento em seus alunos, pois nesta situação, sim, estariam vivenciando uma situação mais próxima do que aconteceria na partida.
Para que fique, ainda, mais claro, não é raro vermos treinadores solicitando aos alunos que “contornem” os cones, para que treinem o fundamento do drible. Pergunto: No jogo, o adversário ficará parado, assim como o cone, para que os alunos executem o drible? Muito pelo contrário! Os adversários se movimentarão e bem rápido, para que não sejam driblados... Então de que adianta treinar o drible com cones?
Não sou contra o treinamento repetitivo, também conhecido como tecnicista. Este tipo de treinamento pode ser útil se for bem orientado, sobretudo nas categorias maiores, onde o alto rendimento é necessário. Nestas categorias é necessário que o atleta aprimore sua técnica diariamente e, para isto, o treinador pode se utilizar de diferentes recursos, desde jogos até repetição de movimentos.
Porém quando falamos de “Detecção e Seleção de Talentos Esportivos” não podemos esquecer que, nas categorias menores, o principal objetivo é desenvolver/ ampliar os repertórios dos jovens alunos e que, neste caso, a “Especialização Esportiva” passa bem longe.
Quero dizer que, se focarmos o treinamento dos menores somente em perfeição de gestual técnico, estaremos limitando esta “bagagem” dos alunos a meia-dúzia de movimentos específicos da modalidade (Especialização Esportiva Precoce) e quando, futuramente, este atleta necessitar de diferentes recursos não terá de onde se “lembrar”, ou seja, não terá diferentes comportamentos para buscar de sua “bagagem”.
Assim, aconselho meus amigos treinadores a proporcionar ao máximo diferentes vivências em seus treinos das categorias menores, fazendo com que as sessões de treinamento/ aulas se tornem verdadeiras aulas de “Educação Física”, com experimentações, vivências, com atividades psicomotoras, de equilíbrio, rolamentos, resoluções de problemas de ordem cognitiva e corporal, vivências de outras modalidades, entre outras, para que possam conhecer movimentos diferentes, diferentes manifestações cognitivas, enfim, se o professor/ treinador estiver bem fundamentado teórico-cientificamente, pode-se utilizar de inúmeros recursos em suas aulas, porém sem nunca se esquecer de olhar para o rosto dos alunos. Olhar para seus semblantes. Se estiverem com um sorriso no rosto é um bom sinal, para o professor, de que seu trabalho está no caminho certo!
Para maiores detalhes sobre Treinamento Integrado, recomendo a leitura do livro Método integrado de ensino no futebol de Alexandre Apolo e Sheila Aparecida Silva, Phorte editora.
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