É evidente que a seleção desportiva, bem como tudo que cerca a questão “talento esportivo”, seja uma preocupação no cenário do esporte, sobretudo no competitivo. Tanto no futsal, quanto no futebol, de modo geral, este processo de seleção se dá por meio de “peneiras”, que reúnem dezenas, quando não raramente centenas, de pretendentes a atuar por determinado clube ou equipe, submetendo-se a um jogo de alguns minutos como processo de avaliação.
Prefiro referir-me a estas famosas “peneiras” como “seleção”, que, aliás, não deixam de ser, já que nelas serão selecionados os jogadores ao qual interessa ao clube investir em sua formação, visando retorno posterior.
Selecionar talentos esportivos, porém, não é tão simples. É preciso que os profissionais envolvidos conheçam os procedimentos corretos e possuam critérios pré-estabelecidos. Ao submeter o individuo considerado um talento esportivo ao processo de “seleção”, será possível constatar se o mesmo está apto, ou não, a passar de uma etapa a outra (promoção de talentos) no processo de treinamento a longo prazo[3].
Na verdade, seleção esportiva, é um sistema metodológico, que aborda, entre outros, os aspectos pedagógicos, psicológicos e sociológicos, nos quais se verificam as capacidades dos praticantes para especializarem-se em determinada modalidade esportiva[2].
Nesta fase da vida do “talento esportivo” é possível que ocorra a chamada “especialização esportiva”, momento em que podem surgir as maiores falhas no processo de formação do atleta que, sem parâmetros avaliativos fundamentados, pode ser submetido a uma sistematização de treinamento sem que o mesmo esteja devidamente preparado, o que chamamos de “especialização esportiva precoce”, acarretando-lhe inúmeros malefícios.
Movidos pela ânsia de resultados imediatos, dirigentes, pais e, principalmente alguns professores que, muitas vezes, com pouca preparação pedagógica, acabam por introduzir, erroneamente, uma carga de treinamento de um “adulto”, na vida do jovem talento, tanto em competições como em suas preparações[1].
Para que fique bem claro, é importante diferenciar os termos iniciação esportiva e especialização esportiva. Entende-se por iniciação como o momento em que o individuo é introduzido ao esporte, sem cobranças excessivas, respeitando-lhe sua atual condição motora, física e psicológica, ou seja, sua fase de desenvolvimento. Para esta, portanto, conclui-se que não há momento ideal para fazê-la, podendo ocorrer em diversas fases da vida da criança, de forma que, quanto antes melhor, desde que guardadas as devidas precauções. Contudo a especialização esportiva conceitua-se como a repetição exaustiva dos gestos motores exigidos na modalidade a fim de seu melhor aprimoramento, além de aumento na carga de treinamento e de competição. Se precipitada, porém, a especialização não garante uma vida atlética de sucesso ao jovem talento (quando não raro, o contrário), já que o ideal é um processo planejado de treinamento a longo prazo[4].
Sabemos que tanto a iniciação, quanto o treinamento, a competição e até a própria especialização são pontos importantes na vida da criança, principalmente na do talento esportivo, podendo desenvolver, quando bem estruturada, a formação do indivíduo por inteiro (físico, mental, emocional, social e espiritual). Porém, quando mal planejada, principalmente pelos profissionais responsáveis, pode provocar danos muitas vezes irreversíveis[1].
Portanto se, no contexto esportivo, a especialização nada mais é que um treinamento sistematizado, entre outros, de movimentos, visando a aquisição ou o aprimoramento de determinada técnica, que tende a ser executada cada vez mais próxima da perfeição para uma modalidade esportiva específica, devendo, para isso, haver uma comunhão entre o físico, a técnica, a coordenação, além das capacidades específicas da modalidade bem como seus objetivos é possível considerar, no mínimo, injusta, com a própria criança, submetê-la a este processo sem que, ainda, esteja preparada, tendo em vista que ao especializar-se em um treinamento precocemente, as atividades motoras características para suas idades são deixadas de lado em razão de um treinamento específico, tendendo a um abandono futuro do esporte[1].
Certamente os malefícios decorrentes de uma especialização esportiva realizada em um momento inadequado em um breve espaço de tempo será visível. Seja este malefício de leve ou grave proporção. Então o que leva um professor, dirigente ou, até mesmo, um pai a submeter uma criança a este processo de treinamento?
Na próxima publicação: A motivação à especialização esportiva precoce.
REFERÊNCIAS:
[1] BALBINO, H. F. Jogos desportivos coletivos e os estímulos das inteligências múltiplas: bases para uma proposta em pedagogia do esporte. Dissertação de Mestrado. UNICAMP. Campinas-SP, 2001.
[2] FILIN, V. P.; VOLKOV, V. M. Seleção de Talentos nos Desportos. Londrina: Editora Midiograf, 1998.
[3] LANARO FILHO, P., BÖHME, M. T. S. Detecção, Seleção e promoção de talentos esportivos em ginástica rítmica desportiva: Um estudo de revisão. Revista paulista de Educação Física, São Paulo, p. 154 – 168, jul./dez., 2001.
[4] MOREIRA, S. M. Pedagogia do esporte e o karatê-dô: considerações acerca da iniciação e da especialização esportiva precoce. Dissertação de Mestrado. UNICAMP. Campinas-SP. 2003.
Nenhum comentário:
Postar um comentário