"Você pode estar na melhor equipe... Se não se superar, não superará o adversário."

quarta-feira, 30 de março de 2011

Gol de Escanteio. Falha da defesa?

As jogadas de bola parada, no Futsal, estão se tornando, cada vez mais, um referencial para se alcançar a meta adversária, ou seja, atingir o objetivo que é marcar o gol. Por isso as equipes investem pesado neste recurso. Os times de maior estrutura possuem, inclusive, um treinador específico para o treinamento do posicionamento dos jogadores, seja em jogada de bolas paradas ofensivas ou defensivas.
Neste sentido, quero chamar a atenção para as cobranças de escanteio, principalmente sobre a importância da obediência tática e da partida das movimentações do ponto de origem das jogadas.
Pois bem, partindo do principio de que a superioridade numérica da defesa sobre o ataque é enorme, já que são 5 defensores contra apenas 3 atacantes (já que o goleiro da equipe atacante está “longe” do gol adversário e o cobrador do escanteio quase que impossivelmente não conseguirá marcar o gol em um chute direto) como podem estar ocorrendo tantos gols em jogadas de escanteio?
Meus atletas devem estar se perguntando: Mas Professor, você não nos cobra o tempo todo a buscar a superioridade numérica sobre a defesa adversária? Como é possível o êxito com 2 jogadores a menos? É exatamente sobre esta questão que alertam dois ícones do futsal nacional e mundial: Prof. Fernando Ferretti[1] e Prof. Wilton Santana[2].
O principal motivo para que o ataque se sobressaia sobre a defesa nesta jogada, mesmo com 2 jogadores a menos, se dá pelo fato de que é quase impossível marcar um ataque coordenado de movimentação ofensiva na jogada ensaiada de escanteio. Isto porque a defesa deverá escolher entre acompanhar a trajetória da bola ou a movimentação dos jogadores. É praticamente impossível fazer as duas coisas ao mesmo tempo!
Entre os fatores primordiais para a defesa conseguir êxito sobre o ataque estão: Marcar atrás da linha da bola e Manter o adversário sob o seu campo de visão. Ambos são quase impossíveis em uma cobrança de escanteio bem treinada.
Quero atentar, principalmente aos meus atletas, sobre algumas jogadas de escanteio que separei para realizar algumas observações táticas, sobretudo no que diz respeito à importância da aplicação tática, na distribuição dos jogadores para as jogadas e da necessidade de que todos partam dos pontos de origem pré-determinados.
A primeira jogada a ser observada está logo no começo do vídeo da vitória do Santos sobre Carlos Barbosa por 5 a 2. O primeiro gol da partida é marcado por Valdín, em uma jogada de escanteio, muito parecida com uma das jogadas de escanteio de nossa equipe. O primeiro ponto a ser observado é o domínio (entrada na bola) de Jackson que domina a bola “limpando” o marcador, chutando cruzado para a entrada de Valdín na segunda trave, fazer o gol.

Sobre os pontos de origem nesta jogada: 1º O homem que estava na marca do pênalti se desloca para o que chamamos de “balanço defensivo”, podendo até ser uma opção de “bola de segurança” no caso do marcador de Jackson fechar a Ala-esquerda. Este homem (que estava na marca do pênalti) inverte o posicionamento com Valdín, que entra na segunda-trave confundindo a marcação. O homem que cobrou o escanteio já estava passando por trás de Jackson, caso fosse necessário aparecer como opção de passe.

As outras duas jogadas estão no próximo vídeo e também estão em mais uma vitoria do Santos, desta vez sobre o Joinville, por 3 a 2.



O primeiro gol foi de Chico (ex-Malwee), agora da equipe de Joinville-SC, mas o mérito deve ser dado à toda a equipe do “JEC”, já que a movimentação ofensiva foi perfeita. No que eles chamam de “jogada 4”, todos os jogadores ficam fora da área santista, com o homem-chute posicionado entre os dois jogadores. Mesmo assim é praticamente impossível a defesa sair para marcar, já que têm que se preocupar com o homem da primeira trave que se movimenta para fazer a “parede” (e o homem-chute pegar a bola “sem marcação, sem pressão”, como diz o comentarista) ou até mesmo a antecipação na primeira-trave. Além disso, para dificultar ainda mais para a defesa, o homem posicionado na ala-esquerda fecha na segunda-trave, obrigando o marcador a não sair para abafar o chute, caso contrário fatalmente sofrerá o gol deste homem na segunda-trave. Outro detalhe importante nesta jogada é que, o cobrador do escanteio, após fazer o brilhante passe, fecha na primeira-trave no chute de Chico, minimizando ainda mais as possibilidades de êxito da defesa. Isto mesmo, o Joinville tinha um jogador posicionado na primeira e na segunda-trave, para o caso de a bola não entrar direto!

Sobre o balanço defensivo, este foi feito pelo próprio Chico, já que o JEC sabia que seria um chute forte e a jogada foi armada para a defesa adversária não sair para marcar, o “balanço” pode ser feito pelo próprio homem-chute. No máximo, a bola “explodiria” em algum defensor e o próprio Chico ou o goleiro fariam a cobertura. Jogada perfeita...
O outro gol de escanteio, agora de Neto, ocorre nesta mesma partida e dá a vitória à equipe santista. Na cobrança, o time da baixada posiciona seus homens abertos em ambas as alas e próximo ao meio da quadra, com Valdín mais a frente, para a possibilidade de um infiltração na defesa. Este único jogador (Valdín) segura 2 defensores, impedindo-os de marcarem mais a frente, pois caso escolham adiantar-se certamente sofrerão o gol de Valdín no meio da área.

Como os jogadores santistas deixam a quadra “aberta” ou seja, espalham-se pela quadra, fica praticamente impossível, para a defesa, manter no mesmo campo de visão a bola e o jogador adversário e, desta forma, sofrem o gol, já que os marcadores posicionados no centro da quadra, que deveriam sair para abafar o chute de Neto ficam observando a bola e quando resolvem sair, já não há mais tempo. Com o deslocamento de Valdín, o marcador de Neto fica em dúvida entre sair, para dar o combate em Neto, ou ficar e marcar a infiltração de Valdín. Gol e méritos para a equipe santista e para Marcão, o responsável pelas jogadas ensaiadas na Comissão Técnica de Ferretti.
Observem que todas as jogadas foram extremamente “verticalizadas”, ou seja os jogadores do chute partiram ou estavam posicionados quase no meio da quadra no momento da cobrança do escanteio, o que lhes proporcionou um chute quase que frontal ao gol adversário, ou seja, tinham um bom ângulo para o chute.
Não quero transmitir a idéia de que é impossível marcar as jogadas de escanteio, tampouco de que saem os gols em todas as jogadas. Mas sim, destacar a importância dos treinos destas situações, que podem ser um ponto de desequilíbrio, sobretudo em partidas equilibradas. Mais importante ainda é a obediência tática, já que facilitará o passe do cobrador de escanteio que saberá quais serão as movimentações de acordo com as jogadas. Ferretti observa, e eu concordo, que a melhor opção para a defesa nas jogadas de escanteio, ainda, é o posicionamento em "Y", com o homem da primeira trave posicionado o mais na diagonal possível. No mais, o que se tem visto nos jogos de alto nível, quando ocorrem os gols de escanteio, são, na maioria, méritos do ataque sobre a defesa, considerando o grau de dificuldade de marcação nestas jogadas.

Referências:

2 comentários:

  1. É sempre perigoso um escanteio... Como goleiro, sempre prezava que um jogador ficasse na marca da lateral, até que tomei um gol olímpico, depois disso eu mesmo trato de ficar ma 1ª trave. Oriento os marcadores á ficarem nos jogadores e quando a bola vier eles anteciparem o desarme á não ser que cobrem curto ou longo para o goleiro adversário...

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Olá Ghustavo, obrigado pela visita! Realmente o escanteio é muito perigoso para a defesa. Na verdade, este é um dos poucos lances no futsal em que, mesmo em inferioridade numérica, os atacantes conseguem sobrepor-se aos defensores. Isto se dá pelo fato de que a bola e os jogadores defensores não estão no mesmo campo de visão, ou seja, ou se olha a bola ou o atleta adversário. Com relação ao seu atual posicionamento, este é o ideal. Normalmente, em um escanteio, a defesa costuma posicionar-se em “Y”, ou seja, dois jogadores mais próximos da bola (um no homem da bola e outro no chute), outro jogador um pouco mais recuado, evitando uma antecipação e possibilidade de gol na primeira trave e outro ainda mais recuado, protegendo a segunda trave. O jogador responsável pelo homem da bola (neste posicionamento em “Y”) posiciona-se distante em torno de 1 metro de sua linha de fundo e, caso a bola passe por este espaço, a responsabilidade é do goleiro, que deverá estar na primeira trave. Abraço e até mais!

      Excluir

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...