É comum nós, seres humanos, valorizarmos em excesso os
acontecimentos da vida, sejam eles positivos ou não. Valorizamos a promoção no
trabalho, o telefonema tão aguardado, a aquisição de um bem e até mesmo o
dinheiro encontrado caído ao chão. Esquecemo-nos que mesmo diante de coisas
boas, consequentemente teremos maiores responsabilidades, criação de
expectativas de outros sobre nós e nossos posicionamentos e atitudes, que na
verdade são os ônus decorrentes dos bons acontecimentos que nos ocorreram.
Da mesma forma, frustramo-nos em exagero quando algo
desagradável nos acontece, seja em nossa casa, no trabalho ou simplesmente no
convívio social. Chateamo-nos em exagero quando nos atrasamos para tomar o
ônibus, chateamo-nos com a resistência do chuveiro que queima durante o banho,
ou com a ausência de energia elétrica exatamente na parte mais interessante do
livro que mais gostamos. Na verdade, contrariamente ao que ocorre com o bônus,
as coisas “não tão boas” que nos acontecem também pode nos trazer situações
favoráveis. Estamos acostumados a ouvir relatos de pessoas que salvaram suas
vidas devido ao atraso no trabalho ou devido a necessidade em voltar para
trocar os sapatos a fim de aliviar a dor incessante naquele “calo”. Além
destes, inúmeros outros pontos favoráveis podem ocorrer após situações
negativas.
O fato é que damos valor demais às coisas que nos acontecem
no dia a dia, sejam elas boas ou ruins.
No esporte, principalmente, é comum vermos nas redes
sociais, após o encerramento de uma partida, expressões do tipo: “hoje
conseguimos uma grande vitória”, ou “agradeço a Deus por mais esta importante
vitória”. Muitas vezes você é o líder da competição e seu adversário é o
penúltimo colocado da tabela (para não dizer o último), ainda não tinha
pontuado após 7 rodadas, não tinha vencido ninguém... Com estes comentários,
além de destacar desnecessariamente seu oponente, desvalorizar seu trabalho e
dar mídia “grátis” para uma outra equipe, você ainda injeta um ânimo e um nível
de motivação em seus agonizantes oponentes para que eles possam respirar um
pouco mais. Pior, talvez esta competição seja de longa duração e talvez, eles
saiam desta incômoda situação e volte a lhe enfrentar, desta vez com muito mais
motivação e certos de que podiam (em outra ocasião passada) e podem lhe vencer,
afinal foi você mesmo quem disse isso “nas entrelinhas”. Calma, é preciso pés
no chão.
Senão o contrário, após as derrotas, lemos e ouvimos:
“perdemos para o líder da competição”, “fizemos o possível, mas o time deles
possui grandes jogadores, experientes”... Comentários desnecessários, pois
muitas vezes perdeu-se jogando melhor! Em outra oportunidade é muito provável
que se consiga a vitória sobre os que venceram hoje! O fato é que, quando você
valoriza demais seu adversário, muitas vezes você se desvaloriza em excesso. Se
você da valor excessivo ao triunfo de seu oponente passa a impressão de que é
totalmente incapaz de batê-lo no futuro! É preciso ter calma nestas horas. Se
for preciso, não diga nada e deixe para comentar em outro momento após melhor
análise e reflexão do que foi realmente a partida. Será, realmente, que não
tivemos nenhum mérito no jogo? Não tivemos nenhum aspecto positivo ou pontos
positivos que mereçam destaque?
Estes comentários se dão devido a nossa cultura de valorizar
apenas o resultado final: Vencedor ou Perdedor. Não somos capazes de fazer uma
analise imparcial do que nos cerca.
Valorizando-se excessivamente o “fim”, esquece-se do “meio”
e principalmente, do “início”. Esquece-se do percurso em que foi percorrido
para que fosse possível obter determinado resultado, a preparação, o caminho, a
estrada... A Jornada!
Preparei-me bem? Fiz a preparação ideal?
Empenhei-me? Fiz o melhor que eu podia?
Poderia ter feito algo diferente?
Posso citar como exemplo a promoção no trabalho. Alguém que
não se prepara, não estuda, não se empenha, recebe uma promoção no emprego?
Essa pessoa poderia ter feito algo diferente?
Ou então aquele que atrasou-se para embarcar no ônibus para
o trabalho. Acordou no horário ideal? Focou em arrumar-se ou distraiu-se com
outras coisas enquanto vestia-se? Poderia ter feito algo diferente para não
atrasar-se?
O importante realmente em tudo o que fazemos nesta vida é a
Jornada! É o durante! Posso até perder um jogo, mas a análise que faço é: Como
minha equipe se comportou dentro de quadra? Cumprimos nosso plano tático?
Colocamos em prática nosso planejamento de jogo? Executamos o que foi treinado?
Dentro deste contexto, vencendo ou não: minha equipe está em
uma escala ascendente de evolução dentro de nossa proposta? Pois em muitos
momentos vencemos, mas comparando-nos com nós mesmos, não evoluímos como
equipe. Não mantivemos a média evolutiva. O contrario, contudo, também é
verdadeiro. Perdemos, mas apresentamo-nos dentro de nossas expectativas? Se a
resposta for “sim”, ótimo.
Particularmente, enquanto treinador e ex-atleta, estou
acostumado a vencer jogos em que minha equipe apresentou-se “pior” que meu
oponente. E já perdi jogos onde atuamos “melhor”.
Quanto mais eu acompanho grandes equipes, treinadores e
atletas de alto nível, mais me chama a atenção o quanto eles valorizam o dia a
dia, o treinamento, a preparação propriamente dita, do que o resultado final de
uma partida. Obvio que todos eles querem vencer! Eles vivem de resultados. Mas
estão conscientes de que a vitória amanhã, será consequência do que fizerem
hoje, agora! E durante os treinamentos executam todos os trabalhos com a
intensidade, exigência e concentração como se fosse um jogo, de modo que
habituam-se a isso e executam com mais eficiência nas partidas.
Assim deve ser na vida!
Aquela planejada viagem. Aquele lugar especial. Sem dúvidas
estar ali será uma lembrança maravilhosa, mas atente-se à estrada. Certamente
ela também lhe trará experiências incríveis, com paisagens lindas e
inesquecíveis e talvez seja tão gratificante quanto o destino final.
Da mesma forma, estudante, prepare-se com o máximo que pode
para aquela tão esperada prova, exame ou vestibular, que poderá mudar a sua
vida. Empenhe-se e seja determinado. Dedique-se a aprender o que ainda não
sabe. Dedique-se para solidificar o conhecimento já absorvido! Certamente o
resultado final da avaliação será consequência de como e qual qualitativo foi
seu percurso até então.
Tranquilamente, agindo assim, independente do resultado
final estará em paz consigo mesmo, ciente de que fez o melhor que VOCÊ poderia
fazer. Caso tenha obtido êxito, terás uma sensação de dever cumprido e
merecimento! Caso, mesmo empenhando-se ao máximo, durante a preparação, ainda
assim não tenha logrado êxito, sairás do campo de batalha em paz consigo mesmo
e certo de que fez o melhor que podia, o SEU MELHOR... Em ambas as situações os
sentimentos serão positivos.
Porém nunca se esqueça, vencido ou vencedor, o importante
mesmo... É A JORNADA!
Forte abraço!
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