"Você pode estar na melhor equipe... Se não se superar, não superará o adversário."

segunda-feira, 9 de março de 2020

A escassez do talento.


Devaneios de um treinador...

Em conversa, com um grande amigo, recebo a seguinte pergunta:

-- "Se o Messi parar de jogar hoje, quem será o "driblador" do Futebol mundial?"

Talvez o que esse meu amigo estivesse querendo dizer é que, caso Lionel Messi pare de jogar, não tenhamos alguém substituindo-o em questão de talento, o puro, aquele que costumam chamar de inato. Assim como ocorreu até hoje por várias gerações onde um craque veio "passando o bastão" para o outro ao encerrar a carreira.

Sem querer entrar na discussão Messi X CR7, onde ambos possuem características muito diferentes... Ambos são geniais, fantásticos. Porém CR7 é mais "vertical", "agudo", finalizador... O que eu digo tem mais a ver com o drible "milimétrico", espaços curtos, tem a ver com o jeito ao invés da força, da leveza, da ginga, da agilidade... Entende?

Onde quero chegar fica evidente se colocarmos ambos lado a lado. O biótipo, o fenótipo são diferentes... Um é alto, esguio, forte... Outro "baixinho", franzino, leve... Um é o Robozão o outro o E.T.!

Essa escassez de craques talvez seja explicável pelo fato de que com o avançar das ciências esportivas e consequente avanço da preparação física, passou-se a buscar o jogo mais intenso. Cada vez há menos espaço para se jogar. Muita intensidade, muita força, velocidade... Com os espaços reduzidos, aumenta-se os contatos físicos e para este tipo se jogo, favorece-se aquele que possui maior estrutura física.

Até aí tudo bem! A grande questão é que, hoje em dia, a busca por jogadores com este perfil "maior e mais forte" vem sendo cada vez mais precoce! Hoje, se prestarmos atenção nas avaliações (famosas peneiras), na grande maioria das vezes, os aprovados são aqueles que são mais altos, rápidos e fortes... Em uma peneira, se houver um jogador grande, forte, com um posicionamento razoável e média afinidade com a bola, este provavelmente terá mais chances de passar do que aquele menino baixo, franzino, com grande afinidade com a bola nos pés!

Não estou dizendo que isso seja o correto, eu não concordo! Mas é a realidade. Messi teve a sorte de ser observado por um agente de um Clube que possui um "D.N.A." e uma escola muito bem definida para um determinado estilo de jogo (que se encaixava com o dele) e um projeto de investimento a longo prazo (além de questões de marketing). Ainda assim, fizeram nele um trabalho com hormônios de crescimento.

E isto se deve porque um dos motivos é a busca por resultados! E eles precisam ser imediatos não somente no adulto, mas cada vez mais, nas categorias de base... Por "N" motivos, que vão desde o preenchimento de egos vazios e realizações pessoais dos professores que deveriam conduzir a formação, até o dirigente que só quer o resultado! 


Em um ambiente onde impera a busca inconsequente por vitórias, não há espaço para a formação saudável da base.

Dessa forma, aquele menino pequenino, franzino e cheio de "alegria nas pernas" não consegue ter espaço pois o treinador dele (aquele que só quer vencer) sabe que, o outro time está cheio de "grandões" e se ele colocar o pequeno, terá um jogador a menos na partida... Infelizmente ele não irá colocá-lo porque quer vencer, mais que isso, ele precisa vencer (por "N" motivos, lembra?) o jogo do importantíssimo campeonato da "esquina" contra a "fortíssima" equipe da escolinha do tiozinho da vila, que por sinal é sua "rival" (como ele costuma dizer). E tamanho faz diferença nas categorias de base, sobretudo nas menores... Quem é professor sabe disso!

Quando não, o pequenino com "alegria nas pernas" é aprovado no "peneirão", porém ao entrar no clube, é logo introduzido em um processo de treinamento que visa formar campeões, ou seja, precisa vencer jogos... Resultado, resultado, resultado... Vitória... Logo inicia-se os trabalhos exagerados para fortalecimento, suplementação, sistemas de jogo com bolas aéreas, corpo a corpo, transferências...

E assim, deixamos de formar o talento.
E assim, "matamos" "Messis", "Ronaldinhos", "Ronaldos", "Zicos", "Maradonas", "Garrinchas"...
E isso começa a ser percebido lá na ponta... A escassez do talento, o puro!

Pode ser que um ou outro assuma o lugar "talentoso" e de destaque de Messi no futebol mundial quando este parar, mas devemos nos acostumar a escassez do talento, já que a era da "fabricação" de resultados chegou e pelo visto, chegou para ficar.

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